Aprender a receber e a Arte da Paz – Notas de Nossos Mestres

 

Uma das questões mais intrigantes, especialmente no Aikido, é como agir quando, no treinamento, o “uke” simula um corte vertical ou lateral (shomen uchi e yokomen uchi).

Como o praticante “encaixa” esse ataque?

Shikanai Sensei explica e mostra que se deve simplesmente receber o corte, para então realizar o movimento seguinte. É um mistério que deve ser decifrado. Parece que estão envolvidos dois fenômenos interessantes nessas técnicas. Um é essencialmente físico.

Uma forma de entender essa parte é refletir sobre como o som reage ao encontrar um obstáculo. É uma energia que reflete dependendo do obstáculo. Quanto mais duro o obstáculo, com mais energia ele se reflete. Quanto mais suave, como numa câmara anecóica, mais o som é absorvido.

O som pode assumir formas muito poderosas como do tipo ultra-som, que até destrói pedras do rim, pulverizando os cristais ou também pode ser suave suficiente para agradar os nossos ouvidos.

Outra forma de entender é o reflexo ancestral de reagir contra uma agressão. Isso se observa numa discussão entre duas pessoas. Quando uma agride (física ou verbalmente) a outra, esta tende a devolver também agressivamente. Quando uma tribo ataca a outra, esta reage de forma similar. Isso vem desde a origem do homem até os dias de hoje.

O que acontece quando uma pessoa recebe e reflete sobre o comportamento da outra e reage de forma que possa resolver o conflito de harmoniosamente?

Ou que está sempre preparada para receber uma agressão e reagir de forma diferente dos nossos ancestrais?

Eis o paradigma do desenvolvimento humano e do viver em paz. O primeiro passo fundamental num conflito é aprender a receber. Isso deve ser treinado nas aulas, como ocorre com o Aikido.

Da mesma forma que se desvia com os movimentos corporais a uma agressão (por meio de Irimi, Tenkan e Kaiten, que são esquivas) deve-se estar preparado para receber um corte. Toda a sinergia corporal deve ser utilizada para que aquele corte seja recebido para que o companheiro que corta (uke) seja imobilizado no instante do toque no companheiro que recebe (tori).

Para isso, o tori não deve agir de forma agressiva, nem demonstrar medo, nem desviar. Ele simplesmente apara o golpe, que deve perder a energia do seu movimento e ser imobilizado. Parece estranho, impossível ou inadequado, mas somente com treino constante e percepção do outro, pode-se agir dessa forma.

Esse aprendizado, quando dominado, ensinado o corpo, mente e espirito, é o instrumento de comportamento em cada momento da vida, seja profissional ou do cotidiano.

A compreensão mais profunda desta questão poderia ser uma das chaves para o progresso da humanidade no seu caminho cada vez mais crítico de sustentabilidade e de solidariedade entre todas as pessoas e comunidades.

 

Brasilia, 18 de abril de 2018

Nelson Takayanagi - Aizenkai.

 

 

 

 

 

 

Aizenkai.